Em qualquer lugar

*Felipe Pereira


Matthew avistou quem procurava; a mulher estava sentada no banco à beira do lago. O homem aproximou-se lentamente, queria aproveitar cada momento, os segundos eram preciosos, logo teria que se ir; desde quando Matthew conhecera Johana, há mais ou menos cinco anos, os dois apaixonaram-se perdidamente, no entanto levavam vidas diferentes. Ele era cacheiro viajante, seu sustento dependia disso; Johana era artista circense, e suas apresentações atraiam públicos de diversos cantos do mundo. Eles se amavam, mas eram condenados a conviverem com a ausência. O amor os castigava, cobrava seu terrível preço. Às vezes o casal conversava por telefone, quando a rotina agitada permitia tal gesto de atenção. Todos esses pensamentos brincavam com a mente de Matthew, ele iria ter alguns minutos com sua amada, depois disso só Deus sabia quando se veriam novamente.

 — Olá, Johana! — O homem cumprimentou, tímido.

 — Matthew, há quanto tempo.

O recém-chegado sentou-se ao lado da mulher. Tomou sua mão com gentileza e a levou aos lábios.

 — Senti sua falta, meu amor. — Disse ele, com ternura.

 — Eu também, mas estou cansada. Eu te amo, entretanto não posso tê-lo. Você tem sido mais uma memória do que uma presença. Sinceramente, não sei se quero continuar a te esperar, esperar o dia que terei você comigo, esperar um encontro que dure mais do que duas horas. Por que te amar é dolorido? — Os olhos exaustos da artista ficaram molhados; não eram somente lágrimas, eram também palavras que a sufocavam, era a solidão retida em seu coração, as algemas que a prendia num amor fadado ao fracasso, mas que insistia em machucar.

 — Queria que tudo fosse diferente! – Matthew falou, tristonho.

 — Mas não é.

O viajante beijou os lábios da mulher; ele a amava mais do que a própria vida, porém algumas pessoas não nasceram para estarem juntas. O eternamente deles era curto como um fio de cabelo, não por falta de sentimentos, mas por ironia do destino. Não poderiam viver desta maneira, estava desgastando-os. Matthew soube o que tinha de fazer, a decisão iria destruir todo o seu ser, mas era preciso. Com um sorriso de despedida, ele se levantou. Caminhou de volta para seu carro, deu a partida e nunca mais olhou para trás.

*Estudante de contabilidade e morador de Nova Andradina

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